Sunday 31 May 2009

Mês.

Olha bem aí,
é o novo mês
todo de amor cortês.
Olha bem por lá,
que nunca mais sabiá
em teu encalço cantará.

Friday 29 May 2009

Nada, que não é, ama.

Sunday 24 May 2009

(re)voada

E eu sempre irei, sempre àquele carvalho vigoroso eu retornarei. Passando por entre as vagas lagoas de cada um dos tempos infindos de uma vida curta em longametragem, re-conhecendo que ainda sou minha e de tantos outros, mas no fim sem-fim de cada uma das histórias-alegorias eu chegarei sempre ao ponto de transtorno que não passa da mais fria indiferença - como naquelas vezes que se chora só por chorar. Que todos os dias das minhas longas noites do infinito azul em breu já enche-se com a revoada, com a nova vinda dos meus brihos-estrelas. Que já sou eles. Pulverizando-se em chuvas prateadas e incorpóreas. Existinto no (des)existir diário.

Wednesday 20 May 2009

E a menina não passa de novo narciso, o reflexo de um espelho.

Saturday 16 May 2009

Não estou lá! (parte I)

Nem por um breve momento deveria estar, pois trata-se de algo tão mais superior a qualquer definição barata do dito 'caos'. Trata-se para além de qualquer imagem figurada do 'cosmo'. Afinal sou eu mesmo, sempre fui eu mesmo, claro que com meus dias loucos de neurótico-hermético e aqueles variáveis surtos da onipotência-esquizofrênica - sempre o mesmo que me assombrou por anos.

Provavelmente será meu tipo de assombração diária, o maior medo do desconhecido de si. Sabe, sempre fui temerário quanto ao passado - dedicando dias sem fim para nele pensar e dele falar. É incrível a variedade das mudanças de medo. Por uma hora é o rato que com sua pequenez assusta, e na outra é a sonora trovoada que prescreve uma súbita tempestade - sim, um medo daquilo que não vejo, mas que talvez seja o que mais conheço, o senhor - meu próprio futuro.

Que quanto mais quisesse, poderia deixar os dedos enrijecerem e tornarem-se os mais roxos, só para sentir a verdade do falar "estou com frio". Entre todos os meus disparates tão meus quanto teus, eu sempre senti a ausência da essência de cada palavra e de cada frase - ausência daquilo que supostamente deveria tornar tudo significante, ou, ao menos, próximo a isso. Mas não chega nem a ser uma pincelada de um desejo tão audacioso, escrito apenas nas entrelinhas escuras da minha própria imaginação.

No fim, os dias e todas essas idolatrices, quanto ao tempo, poderiam implodir-se e tornarem-se algo de nada sem nenhuma chance de retornarem, que eu nem me importaria.

Não me daria ao trabalho de importunar-me por nenhuma discussão lógica de política ou de sociedade, pois isso não existe, nem nunca existiu. São apenas surdos surtos momentâneos de um pensar mais liberto que o voar calmo de qualquer inseto, porém sem a leveza do bater de asas de uma borboleta.

Que eu também poderia estar gritando essas idéias pela rua ou simplesmente respondendo a algum conjunto estúpido de perguntas, mas, eu bem que agradeço aos céus de minhas musas, por possuir alguma criatividade e simplesmente escrever - sem me perguntar como divulgar ou como esconder. A graça e a honra, para mim, dão-se apenas no ato tresloucado de rabiscar esses amontoadinhos de coisas.

Pois bem vejo meu sangue jorrar por entre os veios das diretrizes esquisitas, que tantos tentam me fazer acreditar.

Sinceridade: a estupidez está cada vez maior, pois se não estivesse, já teriam parado de me perturbar com supostos padrões, aos quais deveria vir a me adequar, não fui feito para aturar milhões de pessoas que nunca virão a me conhecer, quererem em minha vida e no meu pensar mandarem.

Não estou lá! (parte II)

Que não importa muito quem fui, e duvido que quem serei também possua algum tipo de importância. Afinal dentro do meu próprio espírito, aquilo que mais me conquista e mais pulsa vivo - não trata-se de um coração puramente -, mas sim, do que eu seu, esse espírito errante que passeia nos prados sorvendo o máximo do ar que puder, e, acima de tudo-qualquer, o espírito inebriado pelo passear do vento em seus-meus cabelos majestosamente já bagunçados. E no fim qualquer dos meus sonhos, até os mais escabrosos, eu finalizo com um sorriso penetrante em meus lábios.

Sou, como nunca antes e nunca depois, o pincelador da cor, do ato, e do sentir. Da tranqüilidade de cada devaneio que já veio a consumir uma alma humana andante. Que sinto e possuo em meu interior cada parte de cada um, talvez eu seja todos, talvez seja um - ainda sendo nenhum... Mas sei que por hoje sou bem eu, sou aquele que acredita em si e se perde entre as minúcias das poeiras estelares.

Entre(mentes) quem me dera ser amada, mesmo que por um vago momento, com a essência de uma alma, com uma vitalidade repleta de sentimento, pois bem sei que seria apenas assim que eu me sentiria capaz e segura para deixar acontecer, já que sou possuidora de uma mente que perturba-se facilmente. Na realidade, e da maneira mais sincera, sinto como uma chama que arde em meu peito, a vontade de poder me dedicar ao Amor, àquele Amor que jamais abandonaria os confins do meu universo. Quem me dera poder expressar com todos os sopros de vida que me condenarão a morrer de corpo, as palavras sem sons e sem grafias, que pipocam e pululam por entre cada qual das minhas células, que vagueiam mais rápidas que qualquer impulso elétrico, desses que transmitem informações, pois é no Amor que tudo se dá, nesse que já falei que eu sou.

E por mais que digam, por mais que eu diga, bem aqui em algum espaço imutável, eu sei que sinto aquilo que domina a sensação de todos que se aproximam. Sei que quando desejo, e quero, transformo-me em alguém radiante, espontâneo e expressivo. Sim, ainda declaro com muita convicção, que são por entre(atos) daquilo que parece estar escrito, que eu me encontro. Como um presente único, que se tornou imutável, me modifico cada milésimo do tempo humano, para algo que sempre fui. Realmente não me transformo, mas me descubro em mim e em cada um, mesmo naqueles que só observo nos meus caminhos.

Diversas vezes posso parecer um todo que fantasia e que não passa de um sonhador perdido em si e em suas expectativas. Porém, não chegam e nem devem chegar a conhecer o suficiente para entenderem minhas visões, entenderem meus ideais de afeição a qualquer sentir que transpasse uma mal feita definição. Não tenho em nenhuma das minhas lembranças, nem em local algum da minha memória uma vertente de mentira, ou uma vertente para fantasias-ilusórias; pois acredito em tudo, naquilo que sinto e que me toma de qualquer delírio dito como real.

Para mim, Amor não é nenhuma definição, nem o mais sensitivo dos poetas poderia ter aproximado-se do que ele é. No fim, não sinto dor, palavras tão bem desconhecidas, eu sinto e vivo em eternidade de Dor, pois ela sim se aplica em cada um dos meus feitios.

E nem de longe ou de perto, suponho que eu seja um poeta ou que me aproxime de algum, pois isso é apenas mais uma palavra variável de contexto para contexto, do pessoal para o impessoal. Eu acredito no credo e na reza do Ser Poeta. Acredito na capacidade de sentir intrínseca à minha pele física e à minha película espiritual em cada uma das supostas palavras e daquilo que não ganhou uma banal definição. E é por meio disto que me expresso. É entre isto que eu sempre estou a viver. Sou Torpor, sou Mentira, sou Verdade, sou aquilo que me sentir. E sou isto ou aquilo na maior das minhas profusões. Sou a introspecção mais viva e mais morta.

Qual busca pelo sentido da vida gera o vazio e o vago, posso me ver como o pincel de uma Esperança ou de uma sorte, sou na verdadeira essência o que mais precisarem que eu venha a ser.

As questões, por hoje, giram em torno de um Acreditar ou de um Desacreditar. Para quê? Eu ainda não sei, nem quero saber. Sou os mistérios em suas aberturas, que dão o mais verdadeiro sabor de saber que posso ter lá minhas valias, tal qualquer outro, tal qualquer um.
(-nenhum)
Enfim: Não estou lá!

Tuesday 12 May 2009

Espelhai-vos!

Estar em dois mundos sendo um.
Te olhando nos olhos sem te ver,
carregando-te junto a outros em meu ser.

De fato, de ato, mais um eu que mato.
Mais de um novo formar-se é entre-ato,
que já foi do pai, da mãe e do mundo a dor do infinito parto.

Era a verdade tua, dele e de outro,
- Outro - mais um criado monstro.
Pois que já finda em início o novo encontro.

E a alma de mim o que seria?
E quem os brilhos a mim cederia?

Já não era mais o que de hoje em ontem faria.

- Eu gosto de sentir a vida!

Foram as palavras do seu nascimento em ida,
foram as mudanças-andanças de todo viver-corrida.

Sendo perdido e mais um pouco querido.
- Desejos de nova gente - novo Eu sumido.
Novo homem de nova mulher, bem-vindo.

É mais um passeio pelas entrelinhas,
mais brilhos-desejos de sonhos-estrelinhas:
Estar em pulverizar de mundos, sendo nenhum.

Sunday 10 May 2009

Dai-me a vida dia-a-dia.

Que vim já sendo amada, que vim já sendo desejada. Cantada (en)cantada, do ventre em cálice de uma mulher. Das mais profundas peculiaridades formei-me como sou, formei-me como haveria de ser. Transformando-me dia-a-dia, vendo no olhar esverdeado do mais azul o 'eu te amo' de todo dia. Sabendo que teria bem ali todo o apoio para enfrentar o mundo de fora, e para construir o de dentro.

Perfeita, sem rabiscos de ajeitar ali ou acolá. Simplesmente sendo a dona de duas vidas, sendo meu grilo falante a cada menor instante. Ela que é a flor-lírio que faz-me querer ser mais, que me abraça com uma simples palavra. Em lágrimas de sorrisos em cada vitória de perder e a nada aparentemente ganhar.

Das brigas já esquecidas, das maculas tão já limpas, foi bem ela tão bela a parar seus sonhos para filiar-se aos meus. Ah! Meu bem, meu amor, que comigo já foi aos mais altos céus, longínquos e etéreos, e comigo já desceu às profundezas de meu desespero.

Complexo. Simples. Delicado e incontestável.
Amor de mãe.

Friday 8 May 2009

O Criar-se.

Que não era nada, nunca fora nada, nem vir-a-ser será o nada. Mas que brilha, e como brilha. É um nada que resplandesce. Um nada que pulsa de outro nada que não se torna. O nada que em respira.

Nada que suspira. Nada que já foi ferida. Nada do hoje que fora agora, nada do depois do que há lá fora.

E ele vai e volta, nada se move, nada que cria, ao nada retorna. Foi ainda ontem no meu hoje estrela de nada gostar, nada a amar, nada que sorri por te ver passar. Não era o nada, não-nada que em tudo torna-se e escolhe-te.

O nada de mim descobre e do outro encobre. Do rosto em resto do nada em fim. Explica então nada de mim qual a mentira que a tal nada chega e crava-se, finca-se em desejo?

Nada abre, nada fecha. Nada é chaga, e é perfume. Nada em segredo. Nada do crer.

Ah! Meu nada a saber, tudo por nada.

Thursday 7 May 2009

um nada

Juro.
Era assim que começava cada novo pontinho de tinta esparramado sobre o pergaminho. Era assim que ia ganhando vida cada mínimo instante daquela alma a tanto perdida. Mas era acima de tudo assim que em um dia de noite qualquer pela madrugada de uma manhã de outrem que a bela criança se refazia de fita em fita e ganhava no emaranhado bolo de cores aquele singelo-delicado florei de um borrão, chamado bem-querer.E cada dia novo de noite, era mais que um sopro de uma brisa a bagunçar-lhe as mechas negras, era mais que o luar a embelezar os olhos azuis-vítreos, e domar a cada movimento dos flocos de neve a cairem o coração daquela que dizia amar.

Prometo.
Seria o meio mais curto de alcançá-la e por mais que um instante declarar-se. Seria ainda que fosse por pouquíssimo não-tempo a falta de juízo de um lunático perdido a caminho da quinta curva direta para o sol. Mas acima de tudo seria aquela verdade-não-dita que sobe pelo voluptoso desejo de ansear que o mundo se acabe e deixar a vida correr omo correnteza-riacho direto para o escaldante mar-desejo, e ali se perder de beijo em beijo.E cada dia novo de noite, seria mais que os abraços indolentes os toques frenéticos de um amor díspare e incauto, seria muito mais que o frescor de uma maresia que passei por sobre o deserto da alma-sem-remorso, e vai assim seguindo via amanhecer-madrugada até aquele dos olhos-vítreos declamando pelo norte de um sul fugido, era a graça-garça que voa para perto dela, era graça-garça de amor-menino.

Sou a amar.
É assim que cada mês de um ano sem medida que ela-ele, os dois como um, na bolha de sabao intocada permanecem a cada instante a cada flúvio de chuva que insiste em correr apenas no plúvio das lágrimas da mãe-moça que teve a filha tirada de súbito. É assim que quero a todo mínimo-cortês rompante, que ele tome pela minha mão todo o meu ser. É acima de tudo assim que eu quero um grande amor, e que ela vá até mim como borboleta-flor-em-flor se encaminha dia-a-dia para seu fim derradeiro da dança de harmonia entre as melodias dos sons-lembranças de outra vida passageira.

Sim.
Busca do eterno-infinito,
do espectro que eu tanto insisto.

Não.
Abandono da maravilha céu-lar
que em novo fim me trará o iniciar.

Sempre.
Das desgraças que tomam-me assim,
eu saiba que não-nunca há enfim.

Talvez.
É assim que vou conquistando,
é assim que deva eu estar amando.

Ele.
Que já ganhou, já se tornou o cativo
da minha alma-coração, cada vez mais vivo.

Nós.
Duplos ensadecidos da volúpia de um paraíso,
dos entre lírios, dos melindres-sorriso.

E é a cada novo dia de noite é entre os amassos que eu me deixo ficar. E é a cada novo dia de noite que eu peço a Deus-dará que jamais tente me roubar da delicatesse que tornou-se o rubor que as minhas faces de lua-temperal ganham a cada toque de lábios sobre a pele da pétala-em-flor. E é assim acima de tudo, que eu vou abandonar-me agora e para alem, que o ontem já esqueci, só me vale esse vivo-sem-tempo perdido e comedido. Amor que é.

Wednesday 6 May 2009

Rebento.

Soaram ao longe, desde antes,
os sinos bem vindos do renegado.
Soaram como nova vida, ecoando
o curto amor de tantos amantes.

Pois já era nova vida, novo rebento
de tantos perfumes, jogados ao vento.
Vasto e abençoado fora tal momento.

Reçoando estavam já pululantes
aqueles esquecidos dias, que já fugira.
Era ao relento daquilo que previra
no longo infindo, amor de dantes.

Menino homem da moça menina,
de todo em toda sempre pequenina.
Acaba e volta, retorna a do coração, Inquilina

Saturday 2 May 2009

Noites de Outubro. (parte II)

E o Sol ia caindo, e aquele seu olhar já me ia vindo com seu movimentar de maré, naquelas ondas que mais uma vez iriam me tomar. E o eu e você, no nós dois, à meia luz, do encontro dos enamorados lunares e solares movimentares. Mais uma canção que a nossa iria cantar.
Fui-me ao encontro daquela já esperando ser mais funesta a tal nova tentativa. Fui ao modo galante de quem vai conquistar a conquistadora. Fui ao modo do balanço em gingado de um bambolear, de quem na corda bamba sabe se equilibrar. Na lapela o fidalgoso cravo púrpura. Ao encontro da beleza que ao meu sorriso enchesse de graça. E me veio o olhar-espera e me veio com aquele ar maroto de quem vai adiar, de quem vai torturar. E veio o movimento de mais um sim cauteloso, veio e se foi sem dar-se ao luxo de fazer-se. E fui, fui continuamente no passo certo, no concreto do mais abstrato devaneio de vir-a-ser. E pelo braço alvo daquela candura juvenil sussurrei-lhe no ouvido: “A tortura de um silêncio poderia levar a loucura ou a maior das genialidades, qual seria pior?”

Quem mais me diria se não eu qual esperta era Minha Maria. Qual ávida era Minha Maria. A Dona de Si era a Minha Maria.

E no sorriso seu, veio-me por entre os dentes o néctar que haveria de deixar-me inebriar, tornar-me-ia o bêbado equilibrista, de todo aquele “Pois haveriam de ser ambos se o desejo pulsante for negado.”
E eu bem já não mais sabia qual seria o novo impulso a me tomar, aquilo que não queria já me era desconhecido e o que queria já a muito havia se tornado infinito. E só esperava aquela vinda, aquele rodopiar do vestido vermelho-rodado. E ela veio ao passo da música, veio como a estrela divina da dúvida-nenhuma. Pegou-me a mão, afagou-me o rosto e levou-me, levou-me pelo mais dourado campo de narcisos que haviam de ser seus perfumados cabelos, seus adoráveis trigais já não o eram. A banhar-me nos mares e lagos de todo aquele azul que diziam já somos o nosso casar. E ela me vira, me perfuma e me arruma, e apenas a gota do seu desejo me despeja na face com aquele beijo daquele olhar que me faz incendiar.
Maria me diz com cada carícia, com cada toque daquelas mãozinhas a surrupiarem a minha e em sua face as colocarem, que é minha. Ela sabia como deveria me conquistar, mas ela sabia que não iria me ganhar. Um lutar de quem sabe que o outro também conquista. Luta de quem já foi jogado nas arenas, jogado aos risos de tantas hienas, que já disse o homem de outros tempos infinitos que do coração do poeta ninguém haverá de ser o domador.
Era jogo, era graça. E agora eu vou perguntar, vou a ela para meus braços levar e quero ver quem ainda vai trair. E só eu sei quanto Amor eu guardei, sem jamais saber que ele seria só para você. E só haveria de ser com você que o libertino se deixaria cair. E você só haveria de entregar-se a mim. Que haveria de fim de ser de um homem.
Era o jogo da sombra e da luz, era a dança do mover-se em infinito.

Maria era estrela, era grande, era super-nova constância. E eu era azul, era complexo, era conservado e estável, era quem a tantas já havia tocado. Maria ganhava a conquista, e a retinha, mas não a possuía. Maria e seu ver não material.

Caímos.
Jorramos.
Flutuamos.
E nos deliciamos. Com o conhecer daquela aurora boreal, daquele momento que faz renascer o furor de faces já gélidas. Se não fosse assim não haveria ainda de ser amor.
“Você que é bonita demais, essa que me deixa encontrar a minha dita paz, essa que a muito já nem pensaria existir resquício. Deixe-me morar por entre o relvado, deixe-me em teus beijos deliciar-me mais e mais.” E ela riu, riu aquele riso gostoso de quem faz festa, riu como se soubesse ter me ganhado mais que eu a ela. Maria e sua esperteza me frustravam, me provocavam a autodestruição. Como haveria de não ser? Ela era sabida, ela era espírito livre.

Maria era vento que vem em brisa que te cobre de carícia. Maria é aquela do olhar que dá flechada e que se torna furacão e você fica perdido no olho dele, na calmaria de momento, e ela se move e ela te arrasa, te abate e te ergue. Maria te faz ser vida.

“Precipitar. Sabe defini-la?” E ela me pegava de novo pelo pé, me derrubava no pulo. “É o não buscar nova arte, é o esquecer do engenho, e deixar o mal-amor te tomar.”, sussurrei esperando pelo fim, sussurrei como se não houvesse volta, sussurrei esquecendo que Amor é verbo infinito, que chega para dar o quem mais ninguém deu.
“Eu ainda quero minha casa no campo, ainda quero me ver para além do mar e nele. Quero poder reter-me na substância essencial de toda a vida. Quero haver em Iemanjá e em Maria Madalena. E quero te pegar pela mão e poder caminhar por sob as nuvens do resplandecente alvorecer. Eu só quero por mais uma noite adentro me perder pelas carícias de teu corpo-ser.” Veio ela para mim na noite que haveria de ser o fim.

Maria é a rapariga que toda noite me afaga os cabelos, aquela que me deixa afagar os seus e deixar que eles me levem para meus campos de narcisos. Maria é aquela que está aqui, lá e em todo lugar, em todos os dias de noites. É a malícia da libido, é quem cuida de mim. Maria é a virgem deflorada pelo homem que não a queria simplesmente deflorar, mas vê-la jorrar, na certeza de ambos serem Homem e Mulher, na certeza do vir-a-ser um corpo só de duas almas revoltas.

Noites de Outubro. (parte I)

Ê Maria, já de longe mais uma dessas tantas Marias, esse nomezinho dos mais comuns, dos mais sem açúcar. Ê Maria, mais uma dessas raparigas que não tem ginga. Ê Maria, já é a terceira dessa marca estelar no céu invernal.

E poderia parar por aí, poderia fingir que nunca a havia visto realmente, apenas aquela olhadela sutil de quem passa pela rua e deparasse com alguém que de um modo ou de outro chama atenção. Algo rápido e sem grande delonga. Mas para variar, tinha que ter o diferencial naquela ali, um diferencial ausente da percepção diária. Já que aquela Maria foi A Maria.

Maria era a virgem formosa dos cabelos dourados, aquela tão bem querida por tantos, a moça flor-de-cerejeira. Maria era a obscura dama da noite, era a mulher de vermelho a arrancar os suspiros de tanta gente fina – ela sabia aonde ir e o que fazer para conseguir aquilo que queria. Maria era a margem paradoxal de um mesmo ser, era a flor-viva de amor e era a marca das condenadas – simplesmente era jovem Flor de Lis.

E poderia por aí convergir a tantos herméticos limites do corpo e da mente, mas que não haveria de ser assim. Não haveria de me atrair por tal ser se eu não o fosse um pouco. Éramos ambos sérios, ambos assim singelos e perspicazes. Aqueles que procuram sem o real procurar quem o vá agüentar por longo tempo sem tempo. Talvez quiséssemos apenas uma casa no campo – talvez quiséssemos ser o campo.
Mas que a morte já havia tomado grande parte daquela face, Maria e sua palidez de moça notívaga, moça noturna que se perde nas estrelas, moça que é mais que o perder-se entre elas – moça que é estrela. E havia mesmo assim toda aquela vida que movia o seu entorno, toda a vida que me fazia por ela tornar-se correnteza meu desejo-nascente.
Era a noite mais profana, a mais santa. O desaguar do sangue rubro das veias insanas da vida que não mais sem ela haveria de persistir. Era na noite daquele meu Outubro, era no cantarolar do silêncio que me perdia, nas andanças por ruas vazias. Eu já sabia onde haveria de vê-la. E ela já me esperava, pois eu não era mais um dos tantos Joãos que por ela passara. Eu era Francisco, eu era Pedro, era Pablo e era André, era quem ela quiser.
“Espera”, ela me diz com aquele único olhar. Era a chance do negócio do ‘viver sem mim’ ser abandonado, esquecido em alguma viela. “Claro minha dama”, só a isso pude restringir a profundeza do Deus-Amor que me batia à porta do coração, esse que não era mais um ilusório Tum-tum-tum, que não era mais o falso passo-compasso, era sim o bailar de um bolero, dos amantes em secreto.
E ela se foi, mais um findar de noite que saio na garoa, me entregando sem pensar aos rodopios do vento. Nessa saudade que existe e quem vem – tão triste. Meus olhos que se afagam com o chorar lamurioso, da falta de alguém tão meu não sendo. Pensando em Amor, pensando no respirar de mais uma Dor. E tu mesma me sopras ao ouvido a Esperança, me sopra aquele versar camoniano com o toque do atual. E me entreguei sem pensar a nova chance de um amanhã tão duradouro.

Maria era fogo. Era gelo. Maria era a música daquele moço vistoso - “Formosa não faz assim”. Maria era a graça de um cinema novo, daqueles que chegam modificam.

Nascemos. Às vezes crescemos, e certas vezes brilhamos.

Friday 1 May 2009

E o dia se findou com a maior esperança de futuro contínuo, com a maior certeza das cores do novo dia. Futuro, infindo. Bem-vindo ao meu infinito.