Monday 29 December 2008

O Papel de Sonhar.

“Que romance fora aquele! Como pudera eu, ter passado tantas vezes por aquelas prateleiras sem o ter notado?! Não, não devia ter sido Eu aqueles dias... Definitivamente não era Eu. Isso sim.”

E é incrível que eu estivesse com aquela carta em minha mão, aquele pedaço de papel que para tantos estaria sem vida. Pudera! Quem imaginaria que as minhas idas à Livraria Cultura me levariam a viver por mim mesma alguma aventura que não fosse a digna de cada um dos livros que escolhia, ou melhor, que me escolhiam.

Mas sim, é como encanto que a cada livro venha acompanhado um novo pedaço de alguém – claro, você, bem sabe, não é leitor? Que cada palavrinha ou palavra, até palavrão, trás em si um pouco daquele que o proferiu em expressões das mais variadas, não é mesmo? – e em cada novo pedaço eu ia me apaixonando pela paixão depositada em cada experiência sobre cada novo livro que estava narrada naquelas letras trêmulas de tanto sentir.

Já se passaram meses em que toda a semana, naquela mesma hora do mesmo dia semanal que só poderiam me encontrar estagnada defronte àquela mesma prateleira, sempre vasculhando, sim, na procura do livro que estará fora da ordem alfabética, tão cuidadosa da gigante guardadora de fantasias em fantasmas de já mortos-vivos autores – a livraria. Pois bem ou que seja mal, não faria nenhuma diferença, afinal, o vínculo da constância que chamo vício já se engendrara, e não seria eu que o deporia de lado por qualquer temor, desses que assombram a mente humana atual, medo de todos e tudo. Não, eu não o faria.

E foi aí, nos exatos treze meses, no dia treze, era o meu mês fevereiro. E foi lá, parada vasculhando, que veio um toque suave, veio um sussurro:

“Que romance é esse! Como pudera eu ter tido tanto medo, ter espreitado por essas prateleiras, sem ter te falado algo por mim mesmo?! Era Eu aqueles dias, bem Eu. E agora sou, apenas Teu. Definitivamente, Teu. Agora, sim.”



Recobrei os sentidos, ao que parecia de emoção, eu desmaiara. Que surpresa, não havia livraria, não havia Ele. Eu estava no hospital. Coma. E ao meu lado: cartas, livros, laços e rosas. E em minha mão: “E agora sou, apenas Teu.”

Wednesday 24 December 2008

Espírito meu, Natal.


Natal. Tem anos que eu não sei mais o que é isso. Tem anos que eu vago de lar em lar, de país em país, e é sempre a mesma decepção...

Será mesmo que para sempre o sentido foi perdido será que para eternidade não haverá mais um único ser pequenino entre os homens e as mulheres que possa de novo fazer a beleza dos sinos surgir e a luminosidade dos pisca-piscas entreterem as crianças uma vez mais?

Pois te digo leitor, te afirmo com o resto de sopro de vida que meu bom criador me dedicou: Há! Por isso que estou deveras radiante nessa noite fria, por isso que estou aqui te contando tal fato surpreendente, pois também este me cativou...

“Quando menos eu supusera, quanto mais eu acreditava que a neve fazia a falta que sempre fez para me revelar o calor do coração humano, veio até mim aquele pequenino ser de luz, com seus olhinhos brilhantes e sua alva pele em contraste com os revoltos cabelos angelicais. Eu nunca o vira pelas ruas escuras do subúrbio em que sempre morei, nem me lembro se o vira, mas não sei ao certo, algo em mim afirmava que eu o conhecia profundamente, e não me atrevi a negar quando me estendeu os brancos pequenos e delicados para me abraçar, não. Eu não resisti em segurá-lo em minhas mãos e elevá-lo à altura de meu rosto, olhei-o nos olhos e o sorriso brotou sem qualquer aviso.

Ele, em sua simplicidade infantil, apenas deitou-se em meu ombro. E foi então que me sussurrou aquelas palavras inesperadas:

-‘Me leva até a minha mamãe’

Mas como podia? Como havia de ser? Uma criança tão pequena perdida daquela que havia de protegê-la em todos os dias de vida e de morte. Ah! Só o meu Senhor lá de cima poderia contar-me como aquilo havia de ter acontecido. O mais inacreditável foi a minha certeza de para onde ir, a certeza dos meus pais de caminharem sem nenhum temor pelas ruas. Era algo alem de qualquer explicação. Aquela pequena possui em si algo de motivador, algo que transcendia qualquer dever que me obriga-se a escolher outro caminho. Esqueci até dos meus supostos compromissos. Aquele era o maior de todos, era como a realização daquilo que esperei por toda a minha vida.

Andei. De vagar, sem pressa. Andei. Em um sorrir eterno e que jorrava a luminescência que estava em meu semblante.

Não temi a nada, não temi a ninguém. Apenas sentia o corpinho mirrado grudado em meu corpo, cedendo-me aquele calor pelo qual ansiava, cedendo àquelas certezas de sonhador que jamais deveria um homem abandonar.

Passou um tempo sem tempo. Passaram-se muitos desses. E as minhas preocupações tão mundanas, bem, eu não as mais reconhecia como importantes. Eu só sabia de uma coisa, eu só tinha certeza de uma coisa: aquela noite fora feita para mim, ela e a chuva que a coloria em regar. Era a minha vez de cantar na chuva, era a minha vez de sorrir para dar vivacidade ao farrapo humano que eu me tornara. Não fora simplesmente a chegada daquela criança, não fora simplesmente ela, mas fora eu mesma, fora por impulso daquele ser puro e inocente que eu ganhara novamente a coragem de não sair desistindo de todos que encontrava. E tudo isso ia rodopiando nas pontas dos meus pensares enquanto eu abraçava a menininha dos meus olhos com o afeto que eu jamais imaginara ser capaz de apresentar e expor.

Mas quanto mais andava, mais tinha certeza de não poder encontrar a mãe dela. Mais sabia que iria falhar. E mais queria poder não falhar. E quanto mais a criança sussurrava:

-‘Onde está a mamãe?’

Porém, não me afligia isso, não me tornava angustiada por não conseguir, eu tinha certeza que fazia o meu máximo e ela também. Ela confiava em mim, desde o primeiro instante. Amada. Sim, ela era isso. Ela ainda é isso.

E no meio dos meus jorrares ternos, o calor dela só me confortava mais e mais. Não havia mais o eu, não havia mais o ela.

Foi então, que me dei conta. Assim, como que do nada e como que do tudo. Ela não estava mais lá nos meus braços, ela não estava mais ali a me abraçar. Sentei-me no primeiro banco que encontrei, e tenho certeza, era apenas eu naquele banco. Uma voz fraca dirigiu-se a mim, mas não me assustei. Não era uma voz desconhecida, não isso não era. Voltei-me e dei de cara com aquela senhora que parecia ter muitos anos terrenos, mas em seus olhos tão azuis dizia-me ser só uma criança. Sim, ela possuía a pureza das esferas estrelares e o brilhar dos cometas. Desculpei-me, pedi que repetisse o que me dissera, e ela disse, olhando-me com os olhos que sorriam – sim ela era possuidora de três sorrisos: aquele dos lábios, aqueles outros de cada olho - , ela repetiu com total segurança:

-‘Finalmente, não sentira falta desse nosso silêncio cúmplice minha pequenina?’

Foi então que notei, ela não falava com a voz que surge de nossa garganta, a voz vinha de toda ela, e eu a escutava, fui responder... Mas, que maravilhosa surpresa, minha boca não se movia também, era como uma sintonia.

Não respondi a pergunta, apenas perguntei:

-‘Onde está a pequenina que abraçava?’

E ela sorriu com mais fervor que antes. Eu não entendi, nem de longe iria entender, eu não queria entender. Queria apenas sentir. Foi quando a vi fazer aquele gesto, aquele tão singelo. E senti que o repetia. Senti que escutava uma segunda voz:

-‘Eu voltei para você.’

Não precisei de mais nada para entender. Entender que finalmente a recuperá-la. Sim, ela voltara para mim quando eu já havia a muito dado-a como perdi em eternidade. Virei-me para perguntar como ela sabia daquilo, como podia saber. E a velha senhora dos lindos olhos já se fora, em seu lugar estava uma jovem, pouco mais que uns dezessete, mas eram os mesmo olhos, era a mesma. E me disse em seu mais sincero sorriso:

-‘Voltamos. Você minha criança e eu. Mãe e filha. Filha e mãe. Ao nosso conhecer de uma pela outra. Das conversas dos mais discretos olhares. Das conversas de só estar perto. Enfim, a minha pequenina voltou para si mesma. E as durezas de sua própria razão voltaram a submissão de seus sentires. Você voltou quando já não sentia mais esperança.’

E com uma lágrima nos olhos. Com o último olhar. Abracei- a. Eu sabia, era o nosso Adeus. Era a despedida, e era a reconquista dos anos que perdi por manter-me afastada. E lá estava eu, no mesmo banco, com a lágrima dançando pela minha face. Aparentemente desacompanhada. Mas em eternidade repleta da criança. Da minha criança, e da minha mãe me restara cada memória em verdade do que ela já o fizera para mim e que eu achara ter esquecido. Para alem de sempre, eu era a ganhadora dos abraços dela e dos ‘eu te amo’ mais belos que poderiam me ser dados.”


E hoje, nesse meu agora infinito, eu entendo: Como poderia querer encontrar aquilo que faltava em mim nos outros ao meu redor?



No fim, todos a sua maneira, retém e sempre

reteram essa mágica de encanto. E agora, a todos,

o mais maravilhoso Natal que poderia abater sobre

vossas cabeças e vossos corações. Ele, eu, ela, nós –

e nossos brilhos de Amor.

Monday 22 December 2008

Iê Iê Iê

Um transtorno neurótico que consome a mim como um narcótico, tal devaneio sutil-delicado. Domina-me melindrosamente em um aguardar pelo profano, mostra-se realmente insano. E quanto mais pudera: rio, e rio me perdendo entre desatinados-brandos momentos - vou até a sala de um cinema e já estou em plutão, no piscar dos olhos me encontro a desbravar o meu interior e vai assim sem sequência e nem coerência de lógica esquecida de pulo, salto. Recaio. E cada novo dia de novas luzes em cores, em novas cores em luzes... Vou bem que esquecendo qualquer que tenha sido a lágrima derramada, vou domando as minhas queixas de mal-amada, sim, pois sim, gero mais que tudo um não perante qualquer decepção. E acabo entre mentes de meus atos em constatar, como que por pura clarividência o estopim que já me foi dado (mas isso, ah, isso só serviria para enganar a frustração de saber que estava sempre lá), que não haveria de ser nem por definição boba de um dicionário repleto dos verbetes mais belos e profundos alguém a entender o que se passa em um poeta.

E afinal poetas são almas sem corpo que vagam pelo mundo fazendo os corpos-dos-sem-alma ganharem a maravilha do sentir e jorrar sensibilidade. É assim, como recriações em constante aperfeiçoamento, cada qual em seus momentos de poeta vai de uma ou outra forma tocando aquele que encontra-se ao seu redor, e é inacreditável o quanto uma única pessoa pode tocar a vida de tantas outras, e assim por diante vai-se formando a dita 'corrente do bem' (convenho que não me agracia de modo algum tal termo restritivo a pensares, mas por hoje o intuito de tudo está na busca de passar um entender, o sentir, por hoje, ´deixo-o em segundo plano). Claro que não da maneira utópica que por tantos seria considerada a verdadeira, mas da melhor maneira que qualquer um em sua pequenez e em sua grandeza podem fazer, com pequenos gestos, certos dias com um pequeno sorriso ou apenas um 'olá'.

Por isso me sinto como mais que verossímil como filha de uma natureza esquecida, como um parâmetro perdido pelos conhecimentos antigos, oras mais e oras pois, encontro-me no sentir de mais um dia entre tantos outros englobados na fatalidade de terminarem em lágrimas-sorrisos de uma tristeza-sem-razão de algum lugar perdido em minha própria constelação-aventura, e bem ali grito aos ventos dos meus ou dos apenas teus rebentos:
Choro! Grito! Porque eu posso.
Amo! Sofro! Porque eu sou.
Me cego. Me engano.
Eu, humana, como ti.



Talvez seja de ambos... Ainda não sei, e acredito não querer saber, aproveitemos o mistério de um confiar em desconfiança.

Thursday 18 December 2008

Em um sonho...

Gosto de deitar na cama, gosto de estar com meu curto pijama, olhar a brancura do meu teto, deixar-me com o pensar em profundo aberto. Gosto da noite, gosto quando aceitas o pernoite, agraciar meu espírito com tua presença, sempre naquela crença que no dia você não desapareça.

Porque eu sonho.

Sonho pelos meus jamais ocorridos amores
Sonho pelas mais divinas dores
Sonho para poder gritar que eu ainda sou humana
Sonho para todos os dias me sentir a mesma Juliana.

Sonho para nunca me abandonar sem crer
Sonho para ninguém mais me entreter
Sonho no desejo de simplesmente existir
Sonho na segurança que sou feita de sentir.

Sonhando com a plenitude de eterno
Sonhando que tu és mais que fraterno
Sonhando com a sábia vontade
Sonhando com o fim da crueldade.

Sonhar de atuar
Sonhar de um dia me doar
Sonhar na arte de sorrir
Sonhar sem jamais me partir.

Sonhando com a finitude infinita
Sonhando com a flor mais bonita
Sonhando com a minha Querida
Sonhando ainda de ter minha vida.

Sonho por ser simplicidade altiva
Sonho aos céus para ainda me ser tu, a Diva
Sonho com a coragem dos sonhadores
Sonho com a certeza de esquecer os pesares.

Sonho pelos meus jamais ocorridos amores
Sonho pelas mais divinas dores
Sonho para poder gritar que eu ainda sou humana
Sonho para todos os dias me sentir a mesma Juliana.

Wednesday 17 December 2008

Baladas.

Na valsa, no tango, ou ainda na salsa
não há outro par que em minhas mão quero ter.
Na valsa, no tango, na salsa
não há outro amar que possa meu coração entreter.

Que não seja aquele que das tuas mãos venha a me encatar.
Que em minha boca só ele irá arrancar
as palavras de um: "Para sempre vou te amar."

Sunday 14 December 2008

4th street.

Eu poderia tê-la deixado ir, partir no vagão de um trem qualquer, e te levarem para longe de mim.

Eu poderia ter rompido antes de você, ter deixado tudo tomar seu fim, mas sempre acreditei que tudo se resolveria.

Mas você acreditou que não agüentaria uma dor, dessas que me perturbam desde os primórdios da minha infância.

Eu poderia ter desacreditado em mim para segui-la, mas você nem me deu segurança para isso.

Eu poderia ter desistido da minha vaidade, mas você me abandonaria mesmo assim. Mas você não me conhecia o suficiente, você nem desconfiou que eu não reclamaria e simplesmente a deixaria bater a porta e sumir.

Ah! Querida, só peço que não volte mais, que no meu sossego posso me sentar na varanda. Posso ver o tempo passar e as cores do céu mudar. Eu sempre tive meus caminhos. Meus impulsos, e minhas escolhas. Sou bem assim. E está tudo bem.

Ah! Querida, só peço que não volte mais, que no meu sossego posso me sentar na varanda. Posso ver o tempo passar e as cores do céu mudar. Eu sempre tive meus caminhos. Meus impulsos, e minhas escolhas. Sou bem assim. E está tudo bem.

Friday 12 December 2008

Certeza.

Ventava nos arbustos, ventava como o último suspiro.
Ventava era no mar, em que Caronte viria, no teu divagar.
Aos teus olhos as moedas do pagamento ele deveria encontrar,
para que assim pudesse te levar, e não te deixar entre os mundos vagar.

No silêncio profundo, por entre os gritos da voz do mundo,
a tua boca veio a selar-se, e de teus lábios nunca mais ouvir,
nunca mais de ti escutar o eu te amo que me tocava fundo,
o eu te amo, que ainda hoje eu queria outra vez sentir.

Subindo por entre as nuvens, lá estava a ave branca a sussurar.
Subindo sim, para alem das nuvens, eu via o teu brilho ir encontrar,
aquele que a tanto você me contava, queria enfim te abraçar.
Que fiquei eu, mesmo a chorar, do pranto me levantar e te olhar.

Brilhavas, feliz, radiante como o mais alvo raio solar
que um dia na terra se propusera a se derramar.
Apenas, era aquilo que me bastava para eu seguir,
para em teu amor me sustentar e na minha vida ainda existir.

Sobre a vida, bem lembro, você dizia que eu nunca devia desistir.
Sobre a vida você me ensinava, antes de tudo, a graça de sorrir.
No fim, você brincava com as mãos pequeninas e meu espirito iluminava,
era você que na dor, era sempre amor. Era a parte que já me faltava;

Mas rias, o riso mais doce, nos lábios mais cativos dos meus,
e mesmo assim, me coração se partia, se despedaçava em um Adeus.
No desejo que em mim ainda ficava, no saber que nunca me abandonara,
e que não era ali que o faria. E no fim com flores te coroara.

No fim, em teu peito minha cabeça eu repousara,
uma última vez, em teus lábios estavam os meus, e a beijara.
No fim, em tua mão eu depositara a carta de amor que te fizera
na primeira olhadela que a anos atrás te dera.

Ventava nos arbustos, ventava como o último suspiro.
Ventava era no mar, pois Caronte já sabia, logo deveria vir me buscar.
Aos meus olhos as moedas do pagamento ele deveria encontrar,
Para que assim pudesse me levar, e não me deixar entre os mundos vagar.

E com todo o prazer eu iria me entregar, na certeza de logo te encontrar.
E na minha mão eu segurava a primeira carta, que dizia: estou a te amar
Que certo dia tu me entregaras, na tua timidez, e ao sussurrar,
Tu declararas: "eu vou, mas não te abandono, eu vou, e lá ficarei a te esperar"

Tuesday 9 December 2008

Floreios num bosque.

Certo dia, certo bosque,
na minha vida, coração.
Vi ao longe meu Amor
tomar-me inteira com emoção.

"Cigarreie!", disseram-me as cigarras.
E eu me perdi entre essas e aquelas falas.

"Criquile!", ordenaram-me os grilos.
E eu como outros, fomos seus pupilos.

Noutro dia, noutro bosque,
na minha vida de magia.
Via ao longe lindas cores,
ao som de doce cantoria.

"Borboleteie!", declamaram-me as borboletas.
E no poema se perdiam todas as letras.

"Floreie!", gritaram-me as flores.
Não sei onde, mas sei: Morriam de amores.

Noutro dia, Noutro bosque,
na minha vida de razão.
Vi ao longe grandes-pequenas
pessoas, ao som de uma canção.

"Esconde!", sussurraram-me os bichos-grilos,
"Para bem longe desse e outros martírios."

"Vive!", sorriam-me os bichos-do-mato,
"Que nesse dia é festa, ato a ato."

Cheguei-me mansamente,
sonhando alegremente...
A imaginar quem seriam
os reis daquela folia.
A acreditar em cada parte
a parte daquela salva melodia.

E mais um,
sem que nenhum:

Certo dia, certo bosque,
na minha vida, coração.
Vi ao longe meu Amor
tomar-me inteira com emoção!

Saturday 6 December 2008

Vícios de virtudes.

Ao ópio, ao vinho! Eu vou bem aos vícios me entregar. Vou passar todos os meus futuros a música escutar, as palavras tentar escrever, e quem sabe ainda um curta eu possa me prestar a fazer.

Que a minha mãe já me falou que sou o asco de toda a nação, que de casa meu pai já quis me expulsar. Acho que vou vagar toda a madrugada pelos prados, vou colher as primeiras flores que na manhã irão florescer. Acho que vou gastar todo meu dinheiro em um piano novo e vou tocá-lo todos os dias da minha vida até que meu anjo venha me buscar e deste mundo ridículo me levar.

Eu acho que vou viver até os 80, acho que vou a minha casa no sul da França construir, e a ela vou cercar com as árvores mais floridas. Vou passar meus últimos dias sentada na varanda a observar o tempo passar, exatamente como ontem. Eu acho que já deveria estar fazendo isso, acho que já deveria a tanto tempo ter me entregue aos meus vícios.

Quer saber, de fato nada mesmo já me pertenceu, que nada irá ainda aos meus braços se entregar sem por um momento titubear. Ah! Se eu bem pudesse o espírito hoje e ontem entregar - já o teria feito.Se o botão ‘destruir’ estivesse na minha mão direita eu jamais o apertaria, mas se fosse encontrado na minha mão esquerda eu nada poderia prometer.

Quanto mais poderia deixar qualquer lágrima pela minha face verter, que sou insensível. Que sou também uma mentira - quando afirmo isso. Não deixo a lágrima verter, pois mais me vale sorrir, e se ela verte, ainda assim sorrio.

Sim, eu vou enlouquecer,
Eu vou a minha vida perder.
Meu sangue vai verter,
Em cada linha que eu escrever.

Então me deixe propor,
Antes que eu saia desse torpor:
Deixe em tua mão eu depor,
Aquilo que eu chamo de Amor.

Que ninguém vai me impedir,
Nem em sonho deixarei de sentir,
Os beijos e as carícias do teu permitir,
Pois sei, ainda vais partir.

Meu coração vai se quebrar,
Uma revolução vai estourar.
E a minha vida alguém vai roubar,
Para com ela poder sonhar.

Que isso é mais um jogo e vencer,
Isso é apenas uma chance de esquecer,
Que em outros dias, não vamos mais ser
Nem de perto poderemos nos ter.

Então deixe nessa vida para trás a Dor,
Deixe que com a aquarela eu te encha de cor.
Com as sortes que ainda virarão horror,
Eu vou preencher o envelope com o mais verdadeiro ardor.

Para que na chuva eu possa existir,
Para que em teu abraço eu possa me redimir.
Dos meus pecados assim, eu vou cair.
Vou até as nuvens, como um Anjo subir.

E de lá longe vou gritar:
“Ah! Querida venha agora me segurar,
Venha agora tentar me amordaçar,
Venha mentir que está a me amar”

Sim, eu vou enlouquecer,
Eu vou a minha vida perder.
Meu sangue vai verter,
Em cada linha que eu escrever.

Wednesday 3 December 2008

O maestro, o escritor: a dança sobre um papel.


Aos sinos e aos acordes, aos sons de um violino, vou bem eu caminhar. Vou nas partituras os teus poemas ler. Vou em teu cantar me deixar esquecer. Vou assim, de sinfonia e de melodia, todos os ensaios de um ‘eu te amo’ declarar, para quem sabe um dia em teus olhos vaguear e sem mais nenhum titubear te contar que o maestro da minha alma tem um nome, que ele é bem amado, que ele foi sempre ti.

Quem sabe se eu não me abandonar numa esquina de uma rapsódia, eu de fato ainda possa te amar, de verdade te adorar, e de ti escutar que vais sempre me amar. Mas ainda me restam os medos, me restam as batidas de um tambor – de um coração tão medroso.

Quem sabe, eu ganhe a coragem, ganhe e vire ainda um tango, quem sabe assim na dança eu venha te trazer o meu encanto...

Mas bem sabes que o que faço, que as minhas artes são no papel, bem sabes que meu mundo foi feito por versos, que cada um dos meus olhos guarda as mais verdadeiras e preciosas rimas...

Parece até que deixamos cada um seguir seu caminho, cada um seguir o seu traço, em seu papel de carta e em sua partitura. Mas tem uma hora que só basta olhar para trás, e ver que não foi assim tão estranho, que não fomos assim tão tolos em querer nossos corações entregar.

Parece até que para sempre nos amamos, parece ainda que me foi hoje feita aquela canção de amor e aquele poema que nunca a seus olhos mostrei. Mas de que vale se ainda me falta a coragem, me falta ter certeza que cada qual está bem, que cada qual agora vai poder ir até o fim, sem nenhum passo para trás querer dar...

Olha bem o que fizemos. Olha bem os olhos que ganhou, e olha mais ainda a arte que me deixou, pois foi como fluxo inspirador, foi como a fonte do pássaro-rouxinol aquela que em meus sonhos você encontrou. Desde que a vi, desde que teu abraço em meu corpo eu senti...

Que podemos juntamente, os medos enfrentar, que podemos a todos olhar e fingir que não nos olhos, pois não há mais nada tão belo quando o poema da alma musicado, pelas mãos do meu maestro....

E às vezes quando sinto-a perto de mim, quando a vejo passar pelo outro lado, pela outra esquina, eu poderia me atirar, poderia sem medo a rua atravessar só para mais um dia poder em meus braços te segurar. Queria em teu rosto deixar a minha mão passar, e em teu cabelo te fazer o agrado, que depois eu poderia muito bem me deixar vento virar, poderia muito bem com um sorriso nos lábios a vida abandonar.

Que eu quero uma única vez, em teu ouvido sussurrar, assim baixinho recitar todos aqueles escritos que as estrelas me ensinaram a fazer, todos aqueles rastros luminosos da caneta no papel a desenhar as palavras que se tornaram cometas-verdades.

É um amor indolor, é um amor de cor-em-cor. É a poesia da alma musicada, é o bosque das palavras certas. E é antes de tudo o brilho que eu sabia em teu olhar, quando você parava e ficava a me observar.



Talvez hoje, eu já tenha perdido meus medos. Talvez ontem, eu já tenha aprendido com meus medos. Talvez amanhã, os deuses venham a me perdoar. Mas que eu não quero sair dessa vida sem a tua mão mais uma vez poder segurar, que não posso me deixar aos céus carregar sem que uma última dança me venha rodopiar.

Monday 1 December 2008

Cosmonauta e sua estrela.


Quando não há mais volta, quando não há mais rotativo. E eu já bem sei, que me tornei, como a estrela cadente, como a cauda de um cometa ardente. Não vou mais é te ligar, não vou mais em teus olhos olhar e de longe eu bem vou gritar um Adeus dos mais frios, um Adeus dos mais mentirosos. Porque em mim, bem ali escondido, eu posso te contar, nunca em minha vida o meu cosmonauta eu iria querer abandonar.

Mas vai, segue pela direita, e não se perca por entre o meu e o teu planeta. Volta para casa Cosmonauta. Você bem sabe que é lá que mora teu amor, você que me contou...

“Que os cabelos dela são os raios mais brilhantes de todo o sistema solar, que o azul que em seus olhos habita, é mais infinito que o universo com seu breu e que aquele sorriso que aparece nos lábios dela é mais ardente que qualquer calor advindo de uma estrela em super-nova.”

Mas volte, volte pela a esquerda, dê a meia volta. E venha em meu brilho se perder, venha se deixar esquecer. E vamos juntos, como um. O Cosmonauta e sua estrela cadente, o universo conhecer. E vamos juntos, como um. Todos os mistérios da lua desvendar, e em nossos corações guardar, o beijo em cometa. Agarrar com as mãos sem tremer, um anel de Saturno. E pular por entre as galáxias. A ela você bem pode esquecer...

“Que os cabelos dela são os raios mais brilhantes de todo o sistema solar, que o azul que em seus olhos habita, é mais infinito que o universo com seu breu e que aquele sorriso que aparece nos lábios dela é mais ardente que qualquer calor advindo de uma estrela em super-nova.”

Meu Cosmonauta, bem ele sabe, que eu sou ela, que sempre fui ela. Que aos céus já subiu, que estrela já virou. E que ao bom Deus rogou, para a cauda ganhar, para assim pelo mundo vagar e a ele procurar. Que ele me diga sim, que ele, enfim, possa me conhecer. Que a promessa que eu fiz, foi ela...

“Que meu Cosmonauta eu vá procurar, que a ele eu vá achar. E que ele veja em mim o seu amor, que ele veja em mim o seu amor. E se ele decidir me deixar, decidir para seu planeta voltar que me peça para ir com ele, mas que não me deixe. E se ele decidir ficar, que me peça para sempre o acompanhar. Que nunca ele venha a desejar que de sua vida eu suma, pois bem sabe o meu Deus, que se ele o fizer eu vou ao buraco negro me enterrar, eu vou para lá me acabar.”



Noutro dia antes de partir, me olhou com aqueles olhos negros e brilhantes, como o universo possuidor de uma única estrela, uma única escolha, tão sua. Por entre as mechas de seu cabelo ondulante ele veio se despedir e tentar pela última vez me tocar. Mas já com o pensar de nunca poder o fazer...

“Espera meu Cosmonauta, meu brilho eu vou diminuir, meu calor e meu frio eu vou extinguir, e sem as queimaduras você vai sair...”

“Não, não o faça. Eu quero mesmo tentar. Quero a mim provar o sonho que ontem tive...”


“Que sonho haveria de ser este que está a te perturbar?”

“Não é perturbar, é me dar a esperança da felicidade.”


E com toda a firmeza que eu não poderia nunca ter acreditado, ele estendeu as mãos e os braços e para mim se jogou, firmemente ele me abraçou. Me olhou com carinho e sussurrou...

“Bem sabia, era você minha vida. Bem sabia, era você a minha Querida.”

E os cristais de mim se soltaram, os meus medos de meu brilho abandonar foram caindo, foram um rastro formando... Eu via, eram como pegadas, eram como palavras de amor, eram os versos do nosso poema...

“Ah! Anjo, meu anjo, meu único e eterno amor.
Como podes um dia duvidar, que eu fosse te encontrar...
Bem sabes, oh vida, querida, sem tirar nem por,
Sempre teu eu fui, e juntos agora vamos brilhar.

Vamos aos namorados iluminar,
Vamos com nosso amor pairar
Nas flores do campo festejar
Vamos gotas de orvalho nos tornar.”


Em meus braços eu vi, que agora o entorpecia, vi que nos seus eu de fato existia, e fomos caindo, fomos cada vez mais devagar nos acabando e em gotas de prata nos transformando. Fomos, juntos, nossos espíritos libertando. Virando as almas-de-vento, virando para sempre aquele eterno momento.



Amor de verdade, é aquele da doação
É aquele que arrebata qualquer coração.
Amor de verdade, é aquele que te toma pela mão
É aquele que te faz para sempre esquecer da razão.

Amar de verdade é dádiva do divino, do esplendor.
É aquilo que vem como água do mar de depor
Na face os sais, os cristais, que se chamam cor-em-cor
Amar de verdade, é pode gritar “suporto qualquer dor”

Só para te dizer que jamais poderia te abandonar,
Jamais poderia um dia sem ti vir a brilhar.
Só para em teu ouvido sussurrar
Um: “Para sempre vou te amar”

Cosmonauta e sua estrela cadente
Cosmonauta em chuva de prata
Cosmonauta e sua vida agora ardente
Cosmonauta em verdade nata.

Amor de verdade, é aquele da doação
É aquele que arrebata qualquer coração.
Amor de verdade, é aquele que te toma pela mão
É aquele que te faz para sempre esquecer da razão.

Sentindo que na vida, tudo virou infinito,
Sonhando que no mundo tudo ganhou sentido
Sentido que no suspiro, não há mais o maldito,
Que o mundo inteiro virou-se em Amor expandido.

Do Cosmonauta e sua estrela cadente,
Do Cosmonauta em chuva de prata.
Dos dois amores, agora em paixão ardente,
Dos dois amores em eternidade nata.