Wednesday 3 December 2008

O maestro, o escritor: a dança sobre um papel.


Aos sinos e aos acordes, aos sons de um violino, vou bem eu caminhar. Vou nas partituras os teus poemas ler. Vou em teu cantar me deixar esquecer. Vou assim, de sinfonia e de melodia, todos os ensaios de um ‘eu te amo’ declarar, para quem sabe um dia em teus olhos vaguear e sem mais nenhum titubear te contar que o maestro da minha alma tem um nome, que ele é bem amado, que ele foi sempre ti.

Quem sabe se eu não me abandonar numa esquina de uma rapsódia, eu de fato ainda possa te amar, de verdade te adorar, e de ti escutar que vais sempre me amar. Mas ainda me restam os medos, me restam as batidas de um tambor – de um coração tão medroso.

Quem sabe, eu ganhe a coragem, ganhe e vire ainda um tango, quem sabe assim na dança eu venha te trazer o meu encanto...

Mas bem sabes que o que faço, que as minhas artes são no papel, bem sabes que meu mundo foi feito por versos, que cada um dos meus olhos guarda as mais verdadeiras e preciosas rimas...

Parece até que deixamos cada um seguir seu caminho, cada um seguir o seu traço, em seu papel de carta e em sua partitura. Mas tem uma hora que só basta olhar para trás, e ver que não foi assim tão estranho, que não fomos assim tão tolos em querer nossos corações entregar.

Parece até que para sempre nos amamos, parece ainda que me foi hoje feita aquela canção de amor e aquele poema que nunca a seus olhos mostrei. Mas de que vale se ainda me falta a coragem, me falta ter certeza que cada qual está bem, que cada qual agora vai poder ir até o fim, sem nenhum passo para trás querer dar...

Olha bem o que fizemos. Olha bem os olhos que ganhou, e olha mais ainda a arte que me deixou, pois foi como fluxo inspirador, foi como a fonte do pássaro-rouxinol aquela que em meus sonhos você encontrou. Desde que a vi, desde que teu abraço em meu corpo eu senti...

Que podemos juntamente, os medos enfrentar, que podemos a todos olhar e fingir que não nos olhos, pois não há mais nada tão belo quando o poema da alma musicado, pelas mãos do meu maestro....

E às vezes quando sinto-a perto de mim, quando a vejo passar pelo outro lado, pela outra esquina, eu poderia me atirar, poderia sem medo a rua atravessar só para mais um dia poder em meus braços te segurar. Queria em teu rosto deixar a minha mão passar, e em teu cabelo te fazer o agrado, que depois eu poderia muito bem me deixar vento virar, poderia muito bem com um sorriso nos lábios a vida abandonar.

Que eu quero uma única vez, em teu ouvido sussurrar, assim baixinho recitar todos aqueles escritos que as estrelas me ensinaram a fazer, todos aqueles rastros luminosos da caneta no papel a desenhar as palavras que se tornaram cometas-verdades.

É um amor indolor, é um amor de cor-em-cor. É a poesia da alma musicada, é o bosque das palavras certas. E é antes de tudo o brilho que eu sabia em teu olhar, quando você parava e ficava a me observar.



Talvez hoje, eu já tenha perdido meus medos. Talvez ontem, eu já tenha aprendido com meus medos. Talvez amanhã, os deuses venham a me perdoar. Mas que eu não quero sair dessa vida sem a tua mão mais uma vez poder segurar, que não posso me deixar aos céus carregar sem que uma última dança me venha rodopiar.

4 comments:

  1. Altamente louco!!
    As vezes nem sei o que dizer
    faltam palavras véi.
    ótimo!

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  2. "E foi em um canto de acorde baixo, que de longe fitei a janela de sonhos. A janela das palavras, dos escritos, da morada do tempo-senhor. Contigo eu sabia, que longe chegaria. E o caminho que tomei, me lembra hoje os traços de uma cadente-estrela, os versos do mais mágico poema. Hoje findou-se meu pranto, pois as notas daquela sinfônia ressoaram alto em meus ouvidos perdidos e inebriados. Audácia dissonante de notas-amantes de uma alma-canção, de um poema-emoção. Foi contigo que aprendi, foi para ti que vivi a vida a cantar. E hoje minhas cordas afinadas anunciam canarvalescamente para aquela janela para a minha Donzela: Todo nosso amor não tem fim."

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  3. Eu diria que você fez um belo concerto sobre "este papel".

    E última frase remeteu-me a algo um pouco fora do foco do texto: lembrou-me de nós (cinco) a nos despedir!

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  4. juuuuuuuu jubaaaaaa
    gostei da ultima frase também. eu imaginei voce
    numa rua atravessando ela feliz e sem medo de nada porque já o perdeu. e isso é tão bom...perder o medo!

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