Monday 29 December 2008

O Papel de Sonhar.

“Que romance fora aquele! Como pudera eu, ter passado tantas vezes por aquelas prateleiras sem o ter notado?! Não, não devia ter sido Eu aqueles dias... Definitivamente não era Eu. Isso sim.”

E é incrível que eu estivesse com aquela carta em minha mão, aquele pedaço de papel que para tantos estaria sem vida. Pudera! Quem imaginaria que as minhas idas à Livraria Cultura me levariam a viver por mim mesma alguma aventura que não fosse a digna de cada um dos livros que escolhia, ou melhor, que me escolhiam.

Mas sim, é como encanto que a cada livro venha acompanhado um novo pedaço de alguém – claro, você, bem sabe, não é leitor? Que cada palavrinha ou palavra, até palavrão, trás em si um pouco daquele que o proferiu em expressões das mais variadas, não é mesmo? – e em cada novo pedaço eu ia me apaixonando pela paixão depositada em cada experiência sobre cada novo livro que estava narrada naquelas letras trêmulas de tanto sentir.

Já se passaram meses em que toda a semana, naquela mesma hora do mesmo dia semanal que só poderiam me encontrar estagnada defronte àquela mesma prateleira, sempre vasculhando, sim, na procura do livro que estará fora da ordem alfabética, tão cuidadosa da gigante guardadora de fantasias em fantasmas de já mortos-vivos autores – a livraria. Pois bem ou que seja mal, não faria nenhuma diferença, afinal, o vínculo da constância que chamo vício já se engendrara, e não seria eu que o deporia de lado por qualquer temor, desses que assombram a mente humana atual, medo de todos e tudo. Não, eu não o faria.

E foi aí, nos exatos treze meses, no dia treze, era o meu mês fevereiro. E foi lá, parada vasculhando, que veio um toque suave, veio um sussurro:

“Que romance é esse! Como pudera eu ter tido tanto medo, ter espreitado por essas prateleiras, sem ter te falado algo por mim mesmo?! Era Eu aqueles dias, bem Eu. E agora sou, apenas Teu. Definitivamente, Teu. Agora, sim.”



Recobrei os sentidos, ao que parecia de emoção, eu desmaiara. Que surpresa, não havia livraria, não havia Ele. Eu estava no hospital. Coma. E ao meu lado: cartas, livros, laços e rosas. E em minha mão: “E agora sou, apenas Teu.”

3 comments:

  1. Coma? Estranho. Hospitais tem cheiro de flores. Flores tem cheiro de morte. Soro tem gosto de lágrima.

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  2. Estava com saudades da minha pequena amiga-escritora! E das coisas que escreve também!
    Desculpa o sumiço. Quando vai chegando o Natal eu sempre acabo me desligando completamente do resto do mundo até que chegue O Dia.

    E desculpa se não liguei no Natal.
    Não liguei pra ninguém!
    Quel tal marcamos com o pessoal para começarmos bem 2009? ;*

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